terça-feira, 26 de janeiro de 2010

The Early Years VIII - Sobre shows, Bob Marley e games

As últimas semanas haviam sido cansativas para mim. Aula de segunda a sexta pela manhã. De tarde, comecei a treinar handball com o time da minha sala. Ainda havia os ensaios com a E**** S***** de noite. E durante os fins de semana os shows. Quase todo sábado, afinal a E***** S****** era banda da casa no E*** B**. As tribos rockeiras do bairro se encontravam no E***, e por isso acabei me tornando popular, sendo conhecida como a “menina da E***** S*****.” Minha função na banda se resumia em tocar partes acústicas com meu violão de cordas de nylon , fazer “backing vocals” e um alguns duetos com o S*****. Isso na época não era muito comum no meio “metal” local, pois o mesmo sempre foi dominado por homens metidos a machões/detentores de um conhecimento “secreto” sobre as bandas “true” seguidoras do Deus Metal. Como sempre me interessei em aprender qualquer coisa que gostasse, acabei conhecendo mais o estilo e volta em meia nos shows, alguém vinha depois conversar comigo sobre música. Nunca me furtei de falar sobre o assunto, e percebia que alguns meninos “davam em cima de mim”. E analisando isso agora, o mais provável é que esses meninos usassem o assunto “música” como subterfúgio para me conhecer... Mas sinceramente eu não achava a situação ruim. No ano passado, eu mal saía de casa. Não tinha vida social. Basicamente era uma nerd. Minhas amigas e amigos de infância eram todos semelhantes a mim nesse aspecto. O esquema era “casa-escola-escola-casa.” E os games. Afora isso, nada mais. Refletindo agora sobre o momento, entendo o que a D****** e o J**** V**** me disseram uma vez, quando furei com eles uma jogatina de Killer Instinct por ter dormido o dia todo devido a balada do sábado anterior:

-“P@$¨%@@*&¨&%, C*****, tu mudou! Nem telefonou pra desmarcar! Agora só quer andar com esses rockeiros maconheiros!”

Realmente, agora tinha outros amigos. Não ficava mais em casa. Minha vida tinha virado de cabeça para baixo. Antes, aos fins de semana, era a TV e o SNES, o Genesis. Agora, o E****. Ensaios. Festas. As pessoas falavam comigo na escola, me convidavam para passear no shopping. Eu estava desfrutando as conseqüências de ter me tornado popular. Mais tarde descobriria que o preço disso era alto demais para mim...


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Num sábado à noite de outubro, estávamos lá no E***. Durante a tarde havíamos passado o som. Algumas músicas novas foram incluídas no repertório não fazia muito tempo e isso causa certa insegurança em qualquer banda, afinal iríamos testar a aceitação do público em relação a elas. No E**** tocávamos músicas um pouco diferentes do que era o estilo da banda. O bar não era propriamente para o público “metal radical”. Então nosso repertório lá era algo mais “soft”. Baladas hard rock e heavy metal e algumas pitadas de grunge, que estava na moda. Naquele sábado, tocaríamos 4 músicas novas: Soldier of Fortune, Is this Love, Dream on, e Black. Por minha influência finalmente Aerosmith estava começando a aparecer no repertório. E deixando a modéstia de lado, a “nossa versão” para a Dream on havia ficado muito show! Eu e o S***** ensaiamos dois duetos em momentos chaves da canção: no segundo refrão e no fim, na parte dos agudos finais. E ainda eu fazia alguns vocalizes durante o interlúdio do solo. Estávamos muito confiantes que arrancaríamos aplausos das pessoas...


Sábado era “o dia” de ir para o E*** B**. O lugar ficava super movimentado, e era um ponto de encontro para as pessoas que curtiam rock e moravam nas redondezas. Sendo um lugar novo, ainda se podia contar com o “fator novidade” para estar sempre cheio. A gente começava tocar às 23 00, mas sempre estávamos lá antes. Eu costumava chegar às 22. O S***** me buscava em casa sempre e a íamos para lá juntos.  Ao chegar lá, sentamos logo na “nossa mesa”. R******, E***** e A****** ainda não haviam dado o ar de suas graças. Enquanto eles não apareciam, ficamos conversando, eu e S*****. Tomamos umas cervejas. Fumei alguns cigarros. Nessa época, eu fumava muito. O S***** implicava com isso, dizia que a minha voz ia estragar. Às vezes ele até batia na minha mão para tentar derrubar o cigarro! Eu ficava fula da vida! Ainda estava empolgada com  S*****, ele era tão legal! Tão bonito. Só que era muito mulherengo. E como eu era uma “novata” no “jogo do amor”, apenas me deixava levar pelas conversas dele, mas no fundo sabia que não tínhamos compromisso algum. Ele não havia me pedido em namoro, e eu tinha medo de cobrar isso dele e acabar perdendo-o. Por minha vontade e gosto pelo sofrimento solitário, achava melhor deixar a nossa situação em suspenso.


Enquanto estávamos esperando os outros meninos, percebi que um casal que estava de pé num canto do outro lado das mesas estava nos observando. Comentei com S*****, e ele me disse que os conhecia. O menino era um colega dele e também tocava em uma banda e a menina era sua irmã. Quando os olhei de novo, vi que estavam se aproximando de nós, e então sentaram na nossa mesa. S***** os apresentou para mim. T***** e S***. Ambos brancos, loiros, de feições refinadas. Realmente eram irmãos, pois se pareciam muito! Conversamos um pouco. T***** contou que tinha conhecido o E*** fazia pouco tempo, e que não sabia que a gente estava tocando lá. Disse também que estava com uma banda nova e queria saber se os espaços da casa já estavam todos comprometidos com outras bandas, pois gostaria de tocar lá. S***** disse a ele que poderia arranjar uma conversa com o gerente do lugar. R***** era o homem. Além de gerente, era um dos donos no bar. Pelo menos era o que ele dizia, pois era de falar muito. E quando conheço alguém assim, fico sempre com um “pé atrás.” Todas as vezes que conversava com R******, tinha a leve impressão que ele contava vantagens. Naquela noite R****** não estava no E*** B**. Uma mulher o substituía. Por isso, o S***** disse que seria melhor T***** aparecer qualquer outro sábado. Quem sabe R****** estaria também e assim poderiam se conhecer.


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Aquelas pessoas aglomeradas ao nosso redor estavam me irritando um pouco. Apesar de gostar de conversar após as nossas apresentações, não estava muito bem. O E*** estava entupido de gente, e o ar condicionado não estava dando conta do recado. Sentia um pouco de falta de ar e queria ir para casa. Mas os meninos estavam tão animados pelo sucesso que foi o show, que resolvi me sentar num canto ao lado do palco e ficar em silêncio, apenas ouvindo o barulho do lugar. Duas meninas sentaram do meu lado e começaram a puxar papo. Disseram que curtiram muito o show, e perguntaram se eu era da banda já há tempos... e se eu poderia ensinar canto para elas. Eu sorri, e disse que não era possível, pois eu era aluna e não me sentia preparada para ensinar ninguém a cantar. Mas disse que tinha uma ótima professora de canto lírico e que se elas quisessem, eu poderia dar o número do telefone da residência dela. Enquanto ainda conversávamos, T***** se aproximou da gente. Não falou nada até que as meninas saíssem de perto, e então veio falar comigo. Perguntou se eu não estava afim de assistir um ensaio da banda dele. Disse ainda que curtiu o nosso show e de me ver cantando e tocando com a banda, que um toque feminino no metal ficava muito bem e etc. Eu agradeci e aceitei o convite. Perguntei onde era o ensaio. T***** pediu meu telefone e disse que ligaria domingo pela manhã para me explicar como eu faria pra chegar lá.


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Saí de casa logo depois do almoço. Como morava próximo à estação P****** do metrô, seria fácil chegar até a S*. Caminhei as minhas “rotineiras” duas quadras, saindo da rua de casa e atravessando a A**** e a C***** D*** rumo à estação. Levei comigo o meu velho companheiro de guerra: o toca cd portátil da Sony. E segui meu caminho ouvindo música...

Chegando na S*, fui direto ao M**** Z***, onde T***** disse que estaria me aguardando. De lá iríamos de carro para um estúdio onde ele ensaiava com a sua banda. Não gostava de caminhar sozinha pelo centro. Mas como era domingo e de dia, não fiquei muito preocupada com isso. E T***** me prometeu que me levariam em casa depois que o ensaio terminasse de noite. Ao me aproximar do local combinado, percebi que T***** já estava lá. E estava acompanhado de outro menino. Cumprimentamos-nos e ele me apresentou seu amigo:


-Esse é o D***, C*****. Ele toca teclado na banda. E está com o carro aí. Vai levar a gente no ensaio.


D*** estava com uma camisa preta do Grave Digger. Seus cabelos eram compridos e castanhos. Usava um modelo de óculos engraçado. Eu diria que ele devia ser muito míope, pois as lentes dos óculos eram bem grossas, ao estilo “fundo de garrafa.” Parecia ser divertido, pois logo foi dizendo: “ah... essa é a menina que você falou que tem o gogó de ouro?” Ri do que ele falou, e respondi que o meu gogó “não era de ouro, mas que um dia chegava lá”! Fomos juntos caminhando para o carro. D*** então nos levou para o lugar do ensaio. Rodamos ainda um tempo de carro por lugares que eu não saberia dizer até que chegamos na frente de um prédio antigo. Lá era o Studio. Então, saímos do carro e entramos no local


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O Studio era pequeno. Não vi sala de gravação. Apenas salas de ensaio. Provavelmente era destinado apenas para isso. Subimos dois lances de escada até chegarmos na sala onde estava a banda. E estava lotada. Pensei comigo: “de novo não!” Sábado já havia me sentido mal devido a lotação do E*** e agora, eu estava numa sala pequena, com uma banda de seis integrantes e mais um público, além de mim! Eu mereço...


T***** me apresentou para as pessoas. Só faltava ele e D*** chegarem para o ensaio começar. As pessoas que estavam lá para platéia não me eram conhecidas. A sala era tão pequena que mal podia me mexer, e isso me incomodou um pouco. Enquanto a banda se preparava, puxei conversa com dois meninos que estavam perto de mim. Eles conheciam a E***** S*****. Mas não sabiam que eu estava participando de shows com eles. Continuamos  conversando até o som começar a rolar. A banda era legal. T***** tocava guitarra e o etilo deles era heavy metal mais tradicional. O repertório deles era Iron Maiden, Judas Priest, Saxon... etc. Eu estava curtindo, pois ele mandavam bem! Eu sempre fui um pouco envergonhada, então não costumava me movimentar muito no palco enquanto cantava ou tocava. E também enquanto mera ouvinte de heavy metal. Mas o pessoal que estava assistindo o ensaio era bem animado. Então, enquanto a banda tocava     “Power and Glory,” eu observava o “público” do ensaio balançando a cabeleiras. Depois de uma meia hora de ensaio, a banda fez uma pausa. T***** veio falar comigo, e perguntou o que eu estava achando até aquele momento. Eu disse para ele que estava gostando muito, e que de repente era uma boa eles tocarem também no E***. Pela qualidade da banda era algo perfeitamente possível. À aquela altura estava todo mundo reunido no espaço diminuto conversando sobre metal. Os outros integrantes, M*****, J****, O*****, V****** já tinham se aproximado também de mim e faziam perguntas sobre o nosso trabalho na E***** S*****. Foi quando o D*** interrompeu o papo para dizer que era melhor voltarem a ensaiar. Tudo parecia caminhar normalmente, até que o T***** falou rindo que antes de voltar a tocar ia dar um teco no “Bob Marley”. Apesar de não saber o significado real da expressão, eu logo imaginei o que fosse. Então, ele tirou um baseado do bolso sem cerimônia alguma e acendeu. Aquilo me deixou um pouco sem graça, e nesse instante busquei o olhar dos outros que estavam no lugar para observar suas reações. Não me impressionei quando percebi que todos os outros não se importaram e continuaram bem à vontade a despeito da situação. Pior. Alguns pegaram os seus e acenderam também. “Você tá afim?” D*** perguntou para mim. “Não, obrigada. Eu não fumo isso. Só cigarros legalizados.“  Brinquei, fazendo um sorrio amarelo. A banda voltou a tocar, mas como o lugar era pequeno e o resto do pessoal estava fumando ainda o troço, a fumaça daquilo tomou conta de toda a sala! Estava numa situação antipática. Queria voltar para casa, porém não sabia como. E nem podia. Não sabia onde estava e não arriscaria sair de noite sozinha por aí atrás de um meio barato para chegar em casa. Resolvi dar uma de “legal” e ficar lá, suportando aquilo tudo. Até acabar. Enquanto o ensaio continuava, comecei a me sentir estranha. O som da banda começou a parecer meio embolado na minha cabeça, e eu já não conseguia acompanhar racionalmente as músicas. Cheguei à conclusão que aquela “fumaceira” estava me fazendo mal. Antes que a coisa piorasse, saí discretamente da sala de ensaio e me sentei no chão do corredor, do lado de fora....



Fechei o s olhos e perdi a noção do tempo. D*** e T***** apareceram sabe lá quanto tempo depois, perguntando se eu estava bem e se eu queria ir para casa. Gentilmente disse que sim. Eles me levaram.Durante a volta, pensei um pouco nos rumos que a minha vida havia tomado. Pensei nos meus amigos de infância e no que a  D****** e o J**** V**** me disseram alguns dias antes. Nunca mais voltei a assistir um ensaio da banda de T****** e D***...

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