quinta-feira, 13 de agosto de 2009

The Early Years III– Sobre viagens, cemitérios e games


Conheci o G**** na net. Eu participava de um fórum sobre rock gótico, e ele sempre postava por lá. Uma vez, realizamos num debate sobre as origens do gênero que durou alguns posts num determinado tópico. Foram muitas mensagens direcionadas, e claro, não chegamos a um denominador comum. Mas, a partir desse acontecimento, começamos a trocar e-mails, e no início, foram singelos links para um site de downloads de mp3. Algum tempo depois já estávamos trocando contas do Messenger. O G**** era muito articulado. Sabe aquele cara que parece entender de tudo numa medida bem razoável? Pois sim, assim era ele. E isso me chamou atenção! É interessante dizer isso, esse negócio de se interessar por alguém que você não conhece de maneira convencional. Digo, você começa a se aproximar da pessoa, e mesmo depois de um tempo conversando com ela, ainda assim, ela se mantém sobre o mesmo véu de escuridão, de mistério. E isso acaba levando a gente à insegurança. Falo isso com pleno conhecimento de causa. Ora, já estávamos nos falando há alguns meses, e de repente nos vimos dando satisfações todos os dias um para o outro sobre o que fazíamos. Não sei explicar bem quando a insegurança começou a surgir, tal qual uma erva daninha nos jardins da Faron Woods (rs!). Mas um incidente a ativou, como um gatilho. Num sábado à noite, deixei de ir a uma balada, só para esperá-lo na net. O dito não apareceu, e isso me deixou péssima! Chateadíssima! Virei o quadro azul que ficava pendurado bem ao meio da pesada porta branca do meu quarto (a mensagem, escrita em letras maiúsculas vermelhas, atrás dele era: “NÃO PERTURBE!!! ) e a tranquei. Naquela noite, tomei uma garrafa de vinho barato que estava já há tempos dentro do meu frigobar, ao som do Sisters of Mercy. Me sentia traída, preterida, descartada! “Ele vai me pagar!” Foi o pensamento fixo que tive a noite toda enquanto chorava. No domingo pela tarde, uma sms no meu celular (sim já estávamos trocando sms): “cadê você!? Fui num aniversário ontem...” A essa altura, já não pensava mais tanto na desfeita dele ter me deixado “plantada” na frente do monitor do PC por uma hora e meia, e sim em como me livrar da dor de cabeça, pois vinho barato tem apenas essa finalidade. Não respondi logo, e deixei o dia correr marrentamente, ouvindo música (nesse dia dei preferência para a Enya e afins) e pela noite conectei. Muitos pedidos de desculpas, emoticons de tristeza e etc. Eu desculpei, claro. Na noite desse domingo compreendi que estava me apaixonando pelo G****.

Até esse momento, quero dizer, sem um encontro real, eu o admirava muito por sua inteligência. Gostava de artes, poesia (e claro: rock gótico) como eu. Muitas afinidades! Achava muito interessante a maneira como ele se expressava! É difícil você encontrar alguém hoje em dia que fale tão formalmente como ele fazia. De apenas achar interessante, passei a realmente gostar disso. Ria sempre comigo mesma, nas nossas longas conversas na net. A cada dia, minha hora favorita era o anoitecer, pois sabia que íamos nos encontrar. Isso preenchia as lacunas da minha vida... Não fazia nada de importante durante o dia, não tinha um emprego. Uma rotina. Realizava alguns trabalhos, algumas coisas que uns amigos que tinham uma pequena firma de propaganda e identidade visual às vezes me pediam para fazer para eles. Mas fora disso, nada mais. Nessa época, eu estava muito perdida quanto ao rumo que minha vida deveria tomar. Não fazia muito tempo que tinha voltado da E*****, por onde passei cerca de um ano, em L******, na F******. Viajei chateada com meus pais, e por lá fiquei um bom tempo sem falar com eles. Muitas coisas aconteceram nesse ano (o que ainda será motivo de alguns outros posts) e quando voltei ao B****, nos primeiros meses me senti como se aquilo tudo- minha casa, meus pais, meu bairro, minhas antigas amizades, já não me pertencessem mais. Ou como se eu não fizesse mais parte de todos eles. Eu me sentia deslocada, não conseguia voltar à minha antiga rotina confortavelmente. Aliás, era uma rotina que já era maçante. Era literalmente uma filhinha do papai, pois terminei o 2º grau, não me interessei em prosseguir os estudos. Era rebelde. Eu sempre fui uma menina inquieta, e na adolescência, aconteceram muitos embates entre eu e meus pais. Meu pai é um homem muito bom. Adoro conversar com ele, ele é espirituoso, bem humorado e de cabeça aberta. Não petrificou seus raciocínios antigos, tornando-os decrépitos, mas sempre renovou sua mente de acordo com a mudança dos tempos. Fora todas essas qualidades, ele tem um defeito: é muito submisso à minha mãe. Sempre acata todas as coisas que ela diz. Mas ao mesmo tempo, me deu asas. Por um lado faz as vontades dela, mas as minhas também, às escondidas. Vive uma vida “dupla” (rs!). Eu até entendo o meu pai, pois quando você se une a alguém, acaba compreendendo que deve ceder. Falar a mesma língua na educação dos filhos. Só que ele nunca foi uma personalidade “sanguínea”. Então, acaba se deixando levar, é a escolha mais fácil, certo!? E minha mãe, de maneira especial, nunca foi catalisadora no que me dizia, no calor das discussões que tínhamos. E por sempre gostar de “desafios” e de “desafiar” (ora, eu adoro games! Wowow!), minha estratégia então foi ir de encontro a tudo o que ela me orientava. Nessa época meus pais me pressionavam muito para que eu fizesse faculdade, e por influência deles, acabei por iniciar uma. Mas escolhi o curso de Letras – Língua Portuguesa (eu sempre gostei de escrever, mas eles queriam, adivinha? Medicina... como todo pai e mãe.). Em seis meses, abandonei.

Um dia liguei para o G***. Queria ouvir a voz dele. Saber como ela era. Se era grave, amável. Na verdade isso era o que eu fantasiava. Ele atendeu, e pelo seu “alô” pude perceber que nada era como eu esperava. Ele tinha uma voz aguda, e esganiçada! Ao longo da nossa breve conversa, notei que ele falava pausadamente, criando o mesmo “clima” dos papos que tínhamos na net. Isso me deixou ainda mais interessada por ele! Meu coração acelerou durante toda a conversa! Tirando a qualidade sonora da voz , o resto era impecável, como eu havia idealizado! Começamos a contemporizar um encontro real. Juras de amor. Promessa de uma vida a dois. Tudo mais o que as pessoas dizem quando estão nas “asas da paixão”. Num fim de semana, uma briga homérica com meus pais. E cinco dias depois eu estava entrando num avião, atravessando o país rumo ao A****. A mesma desculpa ensaiada: “não há lugar pra mim aqui. Vou para perto da minha tia respirar novos ares, conhecer novas pessoas.” Eu sempre às voltas com ares diferentes. Ah! Como isso é bom! Se sentir desconhecida. Ser ninguém.

(********************reservado para outros posts***********************)

G**** era um rapaz que toda menina desejaria um dia conhecer. Era ótimo de humor, fácil de lidar, e inteligente (merci, YHW!). Era bonito, quero dizer, não da maneira idealizada pelo imaginário feminino. Era baixo (tinha apenas 1,70 m), magro. Olhos castanhos e uma fronte que denotava uma gravidade de caráter que ele não possuía. Era divertidíssimo. Ele era dono de uma loja de CDs e acessórios de rock/heavy-metal, que ficava próxima a um cemitério antigo na zona central da cidade e como eu não havia conseguido emprego desde que cheguei, acabei indo trabalhar lá. A loja era uma espécie de ponto de encontro das tribos rockeiras locais, e sempre acontecia de eu conhecer o povo que costumeiramente aparecia por lá. Como eu na época não era muito fã de heavy-metal, sempre colocava no cd player algumas coisas diferentes da proposta da loja. Ora, o G**** trabalhava numa oficina auto-motiva de “tuning”, e só aparecia na loja no fim da tarde. Enquanto isso, eu ouvia sossegada rock gótico, conversava com os clientes e de vez em quando, jogava alguma coisa no Playstation, que eu deixava ligado na TV da loja. Conheci uma menina, B******. Ela era bem engraçada. (aliás, o povo rockeiro de M**** é engraçado. Andam de preto, mesmo sob o calor escaldante do verão). Sempre vestida com corset preto, saias comprida coloridas e botas. E maquiagem pesada. Era fã de RPGs. Numa tarde, pouco depois do almoço, estava jogando FF VII. Já estava no segundo cd, no Whirlwind Maze, quando a B**** apareceu. Logo foi perguntando sobre o jogo. Se eu gostava de RPGs de mesa. Eu disse que nunca fui de jogar RPGs de mesa, só “games RPGs”. A minha única experiência com RPGs de mesa foi com o D&D e só. A B***** falava pelos cotovelos! Ficou insistindo que eu deveria jogar RPG com o grupo dela, que se eu jogasse com eles, eu ia "gostar" e tudo mais. O tal grupo também estudava coisas “ocultas”. Ela já havia me contado isso anteriormente. Alguns dos integrantes inclusive apareciam na loja às vezes. Uma vez ela me apresentou o líder deles. O nome dele era A*****. Mas ele tinha um apelido infame: “Senhor Besteira”. Não me perguntem o motivo. Mas era assim como era conhecido no meio “rocker” local. Sempre fui curiosa com as coisas do além. E pensando não em me divertir jogando RPG de mesa, aceitei o convite. Eu queria descobrir qual era a desse grupo.

(********************reservado para outros posts***********************)

Estávamos lá, todos sentados. Já era de noite. A B**** me apresentou aos participantes à frente da lápide. Eram três moças e três rapazes, fora eu. Alguns rostos eu já conhecia. Não os nomes. Eu sempre fui introspectiva quando estou num meio onde não conheço as pessoas (apesar de que a maioria dos que estavam lá eram clientes da loja em que trabalhava), e fiquei apenas sorrindo timidamente, enquanto a B**** me apresentava a cada um. O A**** além de líder, era o “mestre” da partida. Ele era o narrador. Antes de começar a partida, ele se apresentou mais uma vez, e iniciou a récita de uma poesia. “Bizarre déité, brune comme les nuits... -“Espera aí, eu conheço isso! Isso é Baudelaire”– Pensei comigo mesma. Amo a poesia de Baudelaire. Amo seus ensaios sobre Estética e Filosofia da Arte. “Les fleurs du mal” só não causou a ruína financeira do poeta pois o mesmo era Dândi com “D” maiúsculo. SED NON SATIATA, apesar de ter sido escrito em homenagem à Messalina, é tão contemporâneo quanto qualquer Nelson Rodrigues em verso. Mas ali estava acontecendo um assassinato: o francês era macarrônico! Enquanto o poema era declamado, um dos que estavam lá abriu uma garrafa de vinho e serviu a todos, em canecas (!?) de cerâmica coloridas. Ao fim, iniciei a criação da minha personagem, preenchimento de fichas. Narrativas, etc. Estávamos sentados ao redor de uma tumba, os mapas (desenhados pelo próprio mestre) ao centro. Aqueles dados coloridos de várias faces. Tudo lá. A partida transcorreu normalmente. Já era alta hora da noite, perto da uma da manhã, quando terminamos a jogatina. Eu já estava um pouco preocupada com a hora, minha tia já tinha ligado perguntando se eu iria dormir na casa dela, ou se ia ficar na casa do namorado. Menti: “vou dormir na casa do G****, tia”. Mas o G***** pensava que eu estava numa festa de funcionários da firma em que meu tio e meu pai são sócios. Na verdade, eu não sabia onde ia passar o resto da noite. Ou mesmo se ia dormir.
Ao fim da partida, a coisa toda não acabou. Enquanto o material do jogo era guardado, a B**** como sempre eufórica, chamou o Senhor Besteira, e conversamos um pouco nós três Ele disse que há algum tempo era estudante de artes mágicas, que tinha participado de congressos em outros estados, e que atualmente estava se aprofundando no Thelema, e que se eu estivesse interessada em iniciar algo do tipo, era só participar das reuniões de sábado à noite. Sempre lá, no cemitério. Ele tinha uma combinação com o pessoal da vigilância, e o grupo tinha passe livre por lá. Perguntei se ainda aconteceria algo. O povo estava enquanto isso fumando maconha, bebendo vinho e conversando. Num dado momento, o A**** pediu atenção de todos, e disse que iria iniciar mais uma sessão de estudos coletivos. “Agora o negócio vai melhorar!” -pensei. Então, ele vestiu uma capa preta, bem clichê, e tirou umas coisas de dentro de um pequeno mausoléu abandonado que havia próximo à tumba a qual todos estávamos em volta. Eu vi: um crânio de bode, e uns símbolos em metal que desconhecia descrição e significado. Alguns trechos de Aleister Crowley são citados. E então comecei a compreender no que eu estava metida: um ritual de Magia Vermelha (Oh my F**** Godd!). A B**** deitou sobre a tumba de costas trajando já roupas (!?) sumárias. Aquilo tudo começou a realmente me incomodar um pouco. O A**** pingou umas gotas de vinho nela (em lugares impublicáveis nesse humilde blog que visitais, estimados leitores...) e disse algumas palavras de invocação, beijando –a onde eu não vou dizer. Então, todos repetiram ao mesmo tempo algumas frases. A B**** que a esta hora já estava emprestando o corpo como “altar”, falou num tom mais alto: “que o sagrado feminino entre na circunstância corpórea hoje em cada um de nós.” O Senhor Besteira disse em seguida: “e que seja assim também com o sagrado masculino.” A essa altura, o povo todo estava meio louco, alguns tinham fumado maconha e tomado vinho. Peguei uma garrafa de vinho (Don Bosco, meodeos, que mau gosto dessa gente) e comecei a me afastar de costas vagarosamente porque comecei a entender no que aquilo ia dar. Já um pouco distante, sentei em uma tumba, acendi um cigarro, e tomei o vinho, enquanto assistia aquela loucura toda....

Num dado momento, - não sei se por efeito da fumaça de maconha que respirei misturada ao vinho e ao cigarro- vi luzes por todos os quatro cantos do lugar onde o ritual acontecia. Eram luzes vermelhas e amarelas que pairavam sobre o local, cintilando nos corpos dos participantes da orgia. Um vento frio começou a percorrer todo o cemitério e uma música podia ser ouvida no farfalhar das folhas das árvores que circundavam o lugar. Estas, além de mim, dos ratos e da lua cheia, foram as únicas testemunhas do que aconteceu no cemitério, naquela bizarra noite de sábado...

2 comentários:

  1. Eu ia adorar entrar no ceminterio armado e atirando neles, gritando DIE, DIE DIEEEEEEEEEEEE SEU DEMONIOS!!

    Eu acho a pior palhaçada esse tipo de coisa, odeio, e se eu visse daria uma surra em cada um, para apredenderem a respeitar o tumulo alheio!!

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  2. Quando eu digo vcs roqueiros são tudo sexualmente transtornado me xingam...HAhahaha...

    Complementando o que o Super disse, seria uma tundo de ferro quente, quen agente faz aqui no sul....HSUIAHSUIHAUIS

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