sexta-feira, 7 de agosto de 2009

The Early Years II – Sobre amizade e a Física no Game Boy


Ninguém duvide que ser aluno de 2º grau é uma aventura. E que a escola é uma selva, e que a sua sobrevivência nela dependerá dos seus instintos, da sua condição física e das suas habilidades simbióticas/comensais/mutualistas. Ou mesmo predatórias. Claro, já fui aluna, passei por tudo isso e posso dizer: sobrevivi. E antes que vocês possam se perguntar, já respondo logo: 2º grau é o sinônimo para o atual ensino médio no Brasil desde o ano de 1996 (ano em que terminei o 2º grau...). Bom, só mudaram o nome, pois basicamente ainda a coisa é a mesma. Brilhante idéia do Ministério da Educação: troque seis por meia-dúzia.
Dentro desse mundo de inter-relações das personagens que integram o universo escolar secundarista, encontram-se vários modelos mais ou menos pré-concebidos pelo status quo social do meio. Falarei hoje de um desses modelos. A novata. Você, quando é “novata”, tem que no primeiro contato com os seres que habitam no universo “micro” da sala de aula, observar (antes de mais nada) o comportamento dos outros, e a partir daí, perceber quem serão os seus aliados em potencial. Premissa no 1: meninas tem mais facilidade em se achegar aos meninos. Por que não se aproximar de outras meninas? Revisão da regra áurea feminina: “mulheres nunca serão amigas de mulheres”. O motivo? As mulheres competem. Pela aparência, pelo que elas tem, pelo que elas fazem, e claro! Pelos homennnss! Esse instinto competidor brota na adolescência. Você, menina secundarista, só não vai conseguir um amigo menino se ele ainda não entrou no que chamo de “puberdade mental” (sim, às vezes o corpo se desenvolve, mas o cérebro não acompanha tal desenvolvimento) e ele provavelmente a verá como “intrusa”. (Exemplo prático e claro: meninas, tentem postar alguma coisa na comunidade Nintendo Wii do Orkut. Saberão do que estou falando...)
Quando iniciei o 2º grau, estudei o 1º ano na escola B******d**R****B**** pela manhã. Era perto de casa. Duas quadras seguindo à direita. Não gostei de lá. Não havia muitos meninos na minha sala. Espere aí. Antes que pensem algo mais, já me adianto: sempre fui afeita a ter amizades com os meninos. Quando eu era criança, as meninas queriam brincar de boneca, casinha, mas eu gostava mesmo era brincar de “manja”, de “pirata”, de bolinha de gude e etc. Coisas que os meninos geralmente gostam. Então, eu tinha poucas coleguinhas. E muitos coleguinhas. E tinha o Atari 2006. O Odyssey. E as meninas também não gostavam muito (e olha: só era a alavanca e um botão Rs!). Enfim, eu era, na minha sala de 1º ano, uma renegada. Uma proscrita. Admito que isso aconteceu também por causa da tal transição da infância para adolescência, que acaba sendo um negócio meio complicado. Porque quando você é criança, você não pensa em certas coisas. Uma dessas “certas coisas” para mim chamava-se aparência. Tipo aos catorze anos, eu ainda não conseguia ter esse cuidado comigo mesma a ponto de extrapolá-lo para o terreno da vaidade. Eu ainda me preocupava mais em como salvar Hyrule das garras do Gannondorf do que com tiaras, sapatos, calças da moda e maquiagem. E estava no meio de meninas (argh!) e de impúberes mentais! Nossa, como 1994 foi um ano difícil para mim!
Então, veio 1995. Férias de Janeiro. Negociações com os pais. Enfim, mudança de escola. O C*****I*****D****E*****C****** era uma escola tradicional. Meu pai já havia estudado lá. Saí de uma escola de bairro, e fui para uma que sempre estava nos jornais da cidade. Nos comerciais de televisão. O prédio onde funcionava a escola era imenso! Me senti perdida quando desci pela primeira vez aquelas escadarias de granito. O pátio que dava acesso às salas era uma praça ampla, com bancos, jardins e até um chafariz. Encontrei minha sala : 2o ano "D" O detalhe: dentro de cada sala de aula existia o que a supervisora Q**** chamava de “mapa de classe”. Meu nome numa mesa. Eu não poderia nunca mudar de lugar. Seria lá onde sentaria por todo o ano letivo. E estava lá eu sentada às 07:30 da manhã, numa cadeira azul acolchoada, e com uma mesa grande branca bem na minha frente. À minha direita, a parede azul em pátina, e a janela que dava para o estacionamento privativo dos funcionários. À minha esquerda: um menino gordo, branco, de cabelos lisos e sardas povoando suas bochechas rosadas. À minha frente: outro menino, magro, alto, cabelos ondulados e loiros cobertos parcialmente por um quipá preto. O olhar sereno, meio perdido. E sandálias exóticas nos pés. Atrás de mim: uma menina de cabelos ondulados, bem compridos. Era branca e seus olhos eram azuis. Usava jeans escuro, apertado e rasgado nos joelhos. Vários brincos em cada uma das orelhas. Não falei com nenhum deles, apenas sorri para o gordinho da direita, pois foi único que me encarou rapidamente. Aula. Matemática. O professor é um careca. Se apresenta. Fala efusivamente, e seu sotaque já o denuncia: é carioca. A aula se arrasta vagarosamente, e ele não teve nem a educação de perguntar o nome dos alunos. Já faz a “chamada”. Equações. Tudo muito chato. Começo a observar o movimento lá de fora, pela janela à minha direita. Algumas pessoas andando pelo estacionamento e outras andando na rua. Rabisco algumas coisas no meu caderno. Ainda não tenho livro. Olho para o teto branco. Nada de interessante, e a luz florescente embaralha a minha visão. Olho para a minha esquerda. Algo me chama a atenção! O gordinho: está com alguma coisa nas mãos, entretido, vidrado! Se escondendo atrás da menina que senta à sua frente, parece está jogando...um GAME BOY?! Naquele momento, arregalei meus olhos, e comecei a observá-lo atentamente Num momento ele parou o que fazia e olhou para os lados, e percebendo que eu o observava sorriu timidamente com o canto dos lábios. Sorri em retribuição, e então, escrevi em uma folha do meu caderno: “gosto de vídeo game, que jogo é esse?” mostrando discretamente para ele. Ao ler, ele sorriu mais generosamente e balbuciou uma palavra curta. Não pude ouvir, mas li seus lábios e entendi perfeitamente: Tetris! Levantei o polegar esquerdo em sinal de “ok” e escrevi novamente no caderno, perguntando se poderíamos conversar no intervalo do lanche. Ele balançou afirmativamente a cabeça. A aula continuou.
Durante o lanche conversamos. Seu nome era C******. Além do Game Boy (o primeiro, o da tela cinza, monocromática) tinha um Super Nintendo. Falava meio atrapalhado, e tinha um sotaque mineiro. Era de B******, mas o pai estava na cidade à trabalho. A mãe tinha ficado pois era divorciada do pai. Falei um pouco de mim e fizemos amizade. Ao voltarmos à sala, a professora de Física já estava à porta. Lá cumprimentou aluno por aluno, e se apresentou. Se chamava E*******. Pareceu-me simpática. A aula começou. Fórmulas e mais fórmulas. Meus vizinhos de classe estavam compenetrados nas explicações da professora, menos claro, o C*****. Ainda jogava Tetris. Então em dado momento, ele olhou para mim, e esticou o braço direito, me oferecendo o console. Sorri largamente, e peguei. Joguei. Joguei. E na minha cabeça veio seguinte pensamento: “melhor resolver esses problemas aqui, que os problemas dalí”.

Percebi naquela segunda feira chuvosa de Fevereiro, que não estaria mais só. Mais tarde faria amizade com a menina de trás e com o menino da frente. O ano de 1995 foi de mudanças. E reviravoltas. Continua...

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Bom, eu não concordo tanto assim, que o ensino médio seja de fato uma selva,uma aventura talvez, pois o meu ensino médio foi o melhor momento que tive na minha eterna carreira de estudante. Para mim estudar, era o mesmo que ir num parque de diversão, eu nunca fazia nada do solicitado, pegava sempre recuperação e passava aranhando no fim do ano; talvez seja eu que tenha um talento nato e grande carisma, por isso fui bem sucedido logo de cara no ensino médio, logo achei meu grupo e tornei-me líder...
    Éramos em 8 ou 9 rapazes e umas 12 ou 14 meninas e eu era o chefão, (E tarado do grupo, mas nunca peguei nenhuma colega minha) tanto em zuação que fazíamos com tudo e com todos, desde aos assuntos sérios, quando envolvia trabalhos e coisas do tipo. Talvez eu fosse o líder, porque eu sou um bolador de planos maquiavélicos nato...
    Um exemplo claro da minha genialidade maligna foi quando eu convenci 2 rapazes a colar adesivos políticos no carro de uma das professoras. Que quase resultou expulsão da escola... O porquê disso? Simples!! Ela odiava política e esse simples fato bastava!! (E ela era minha amiga).
    A historia começa assim:
    Era época de eleição para presidente e eu trouxe um rolo de adesivo que peguei do meu tio e distribui na sala inteira, (Fiz por que era proibido fazer) eu nem sabia quem era a porra do candidato pois anulo meu voto SEMPRE e convenci a todos a colar no peito e gritar o nome do candidato pra irritar uma outra professora de um partido oposto, depois disso, tive a brilhante idéia de colar o adesivo no carro dessa professora amiga minha, mas como eu sou cadeirante, era uma tarefa impossível pra mim, ai baixei a cabeça e comecei a fazer o que eu faço de melhor: PENSAR
    O primeiro obstáculo do meu plano era achar dois discípulos, dispostos a seguir minhas ordens sem questionar ou pensar nas conseqüência e isso não era uma tarefa tão fácil, mas eu estava decidido a executá-la...
    Depois de pensar, surge o nome de dois amigos: Diego e Ismael (Catatau e Gordo boiola, como eu costumava chamá-los), chamei os dois e contei do plano para eles, eles ficaram com receio, mas depois de persuadi-los que ninguém ia descobrir (Eu sabendo que iam sim, sempre tem um filhadumaputa) e íamos se matar rindo dela, eles aceitaram... No dia seguinte nos 3 chegamos primeiro que todos, eles me carregaram para o segundo andar (sim, eu estudava no segundo andar) e foram ambos esperar a professora chegar de carro, depois do trabalho feito, vieram correndo me contar:
    Eles: - Negão, negão, colemos como tu disse, ficou doido!!
    Eu: - Mas cêis não colocaram na tinta, pois eu não quero estragar a pintura, só quero zuar com ela, seus putos!!
    Eles: - Não, mas ela nem dirigir vai conseguir!!

    Nisso eu solto uma risada MUITO alta e entro pra sala de aula... Depois de 40 minutos mais ou menos, ela entra porta adentro como um furacão gritando!! DIEGOOOOOO E ISMAEL, JÁ PRA FORA!! E eu quase me mijando e segurando pra não rir...
    E voltou e começou a dizer para turma: - Eu odeio política, nem quando meu pai se candidatou eu votei nele e bla bla bla

    E eu só com um sorrido maligno na face . Ai ela mandou eles 2 lavar o carro dela, e lá foram os 2 fazer isso... Ai um reclamou: Mas prof a prof sabe de quem foi a idéia ne?
    Sim, eu sei, mas como vou obriga-lo a lavar o carro?

    E assim foi todo o ensino médio que ainda era segundo grau na época... Parece que foi ontem...

    ResponderExcluir