terça-feira, 8 de setembro de 2009

The Early Years V – Sobre ônibus, violões, e games


Uma vez, fugi da aula depois do intervalo do lanche. Não estava disposta a assistir os dois últimos tempos. Geografia. A professora tinha a eloqüência semelhante a de um mudo, e enquanto explicava dava aula, nós ficávamos em um meio termo de compreensão entre o “hein!? e o ham!?”. E, ora bolas! Sexta-feira nunca foi um dia propício para se estudar! Por isso, gazetei Ao largo da avenida, o ponto de ônibus era perto de um mini-shopping onde havia uma loja que vendia umas bugigangas de hippies e artigos esotéricos. Me dirigi para lá. Eu estava com a farda da escola, e se algum funcionário me visse fora da escola no horário em que deveria estar em aula, teria problemas! . Por isso, fui à loja. Minha idéia era ficar lá, atenta para quando o primeiro ônibus que fosse ao centro parasse, e então eu entraria nele. Chegando, falei com a J****. Ela era vendedora, atendente, gerente e responsável pela limpeza da loja. Digo isso pois era a única funcionária. Eu sempre comprava algumas coisinhas, tipo pulseiras, cordões e etc. De tanto aparecer por lá, acabamos ficando meio que amigas. A loja era pequena, e era meio complicado às vezes se movimentar lá dentro, no meio de estátuas de divindades orientais e os poucos clientes que apareciam. No canto esquerdo, próximo à porta de entrada havia uma estátua em mármore do deus Shiva, com sua mão direita levantada à altura do ombro e um tridente na mão esquerda. Toda vez que olhava para ele, sentia um ar sublime pairando sobre a loja, tinha vontade de curvar minha cabeça em sinal de respeito. A J**** tinha uns amigos que tocavam numa banda de rock local. Eu já havia assistido eles algumas vezes. Um dos meninos inclusive estudava no C*****I*****D****E*****C*****. Era o vocalista da banda. Ele era do 3º ano, e fazia sucesso entre as meninas da escola. Pegador. Tinha umas da minha sala que até já tinham “dado” pra ele, e os boatos sempre corriam soltos nas bocas do povo. S***** era um menino realmente bonito. Alto, corpo atlético. O rosto era bem másculo, a pele clara, os maxilares bem angulados, as sobrancelhas espessas, os olhos claros e verdes e um cavanhaque bem cuidado. E um cabelo enormeeeee! Lindo! E cantava bem. Um “metal defender.” E o típico cara que não daria bola para mim nunca. A banda dele, E***** S*****, já havia se apresentado três vezes em festivais de música da escola, sempre como atração principal do evento. O som que eles faziam era o heavy metal melódico. Enquanto via umas tralhas esotéricas, conversava com a J****. Estava também de olho no ponto de ônibus, que podia ser observado através da porta de vidro de entrada. A J**** me disse que tinha começado a ficar com um dos meninos da E***** S*****. “O J******, que toca baixo”. Ela respondeu quando perguntei quem seria. O guri era um “porra louca” Uma vez, no E***** Bar, assisti uma apresentação de uma banda a qual ele também fazia parte. O desempenho “artístico” dele foi no mínimo curioso. O lugar não tinha palco propriamente dito, a eles tocavam num canto do bar, com os amplificadores ligados diretos em caixas de som. Era como se fosse um ensaio. Nessa noite, o J***** deveria estar cheio da “dorga”, pois num momento enquanto tocava e cantava (!?) a presilha que segurava o baixo elétrico dele se soltou, e (claro) o instrumento caiu no chão. Então, em vez do “doido” pegá-lo de volta, começou a pisar, chutar ele! E no final do “show” ainda terminou de cócoras no chão, em posição fetal, gritando no microfone! Enquanto a J**** me falava sobre seu mais novo affair, eu me lembrava do ocorrido.”Ah, mas o J***** é meio doidinho, não é!?” Respondi. Ela riu, e me perguntou se não queria assistir um ensaio da E***** S*****. “Nossa, seria legal!” Disse a ela. Então ficou combinado de no domingo ela me ligar de manhã para acertarmos tudo.

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Acordei tarde domingo. Havia passado a noite toda jogando The Legend of Zelda- A Link to Past do SNES queimando os miolos na Tower of Hera. Ninguém em casa. Como todo domingo, meus pais foram ao sítio que nós temos em G*******. E como sempre, não me convidaram. Claro, não precisaria, eu não iria mesmo, rs! Pendurado na porta da geladeira, um recado escrito pelo meu pai: “ligue para a J*****. Te amamos.” Me lembrei que hoje era o tal ensaio. Fiz o que tinha de fazer: comi, tomei um banho. Música bem alto. Me energizei com Bad Religion, Iron Maiden, The Doors (só lembro disso porque está escrito no meu diário, rs!). Então, liguei para a J****. Marcamos de nos encontrar no Boulevard A***** M****** às 15 horas. De lá seguiríamos para o local do ensaio: a casa do S*****. Fiquei ansiosa. Era a casa do S*****! Aquele menino lindo! O protótipo perfeito de “metal defender”. Tomei um ônibus. Levei uma bolsa com meu cd player, cigarro, alguns CDs, e o livro Les Liaisons dangereuses de Laclos. Fui lendo e ouvindo música até o ponto em que deveria descer. Chegando lá, a J**** estava sentada num banco do Largo que divide as duas avenidas. Nos cumprimentamos. “Vamos, já estamos atrasadas. O pessoal já deve estar lá.” Descemos o Largo até o fim do Boulevard. Enquanto íamos conversando e rindo sobre bobagens, J**** interrompeu-me e apontou para um casarão do lado esquerdo do Boulevard. "É ali. Vamos! Já estão lá, posso ver alguns carros.” Chegando na porta de entrada da casa, a J**** apertou a sineta eletrônica. Uma voz: “quem é?” - “Somos nós!” Respondeu ela. Enquanto esperávamos, J**** ficava me olhando e rindo não sei do quê. Fiquei pensativa por uns instantes. “O que essa doida tem”? “Será que algo em mim é engraçado?” Fiquei um pouco irritada com a atitude dela, mas não disse nada. Só olhei para o céu e entortei o canto da minha boca. A porta se abriu. Era o J*****. Convidou a gente a entrar. A J**** e ele trocaram uns beijinhos rápidos. Aquilo me incomodou um pouco, me deixou deslocada. Mas deixei rolar. “Essa é a C****”. -Disse a J****. Ele olhou para mim, como se já me conhecesse. E eu disse: “antes que você fale, sim! A gente já se viu e até falou por aí.” Então o J***** disse: “E**** Bar!?” “Simmmmmm!” Respondi. Ele deu uma risada, e falou: naquele dia eu não estava bem!” Só fiz balançar a cabeça e rir. Mas pensei em dizer que ele não estava na verdade nem um pouco bem. Percebi que a J**** não se sentiu à vontade com nossa conversa, mas como dizem, a vingança vem “à galope”...rs!

A casa era enorme. O J***** nos levou por fora, atravessando a varanda. Aliás, a varanda era cortada por uma espécie de “lago” artificial em que peixes nadavam tranquilamente de um lado para o outro. Entramos numa porta escavada numa parte alta do solo gramado, que levava a uma rampa. Descemos. O lugar não tinha comunicação com a casa. “Que maneiro!” É como um bunker!” -Pensei. Descemos cerca de uns 3 metros rampa abaixo, e chegamos no lugar. Era um estúdio de ensaio. Já estavam lá o resto da banda, mais umas meninas que eu não conhecia. Conversamos um pouco, fui apresentada a todos. E lá estava ele: S*****, o sonho de consumo de qualquer menina. Com uma camisa do Helloween, e os cabelos loiros amarrados. A banda começou a tocar. Covers do Helloween, Gamma Ray, Stratovarius, Labyrinth. Que potência na voz. Que vibrato, que falsetes! Estava encantada com a performance de S*****. Enquanto os covers estavam rolando, estava tudo bem. O negócio começou a degringolar quando pararam, e o J***** deu a idéia de voltarem a trabalhar em cima de uma música autoral da banda. Aí ficou chato. Só os instrumentos ficaram trabalhando, enquanto S***** deixou eles lá e veio ter comigo e a J****. Fiquei nervosa. Ele chegou perto de mim e disse: você é lá do C*******, certo? - “Sim.” Respondi, um pouco envergonhada. Conversamos. S***** me falou de coisas que gostaria de melhorar na banda. No estúdio. Pensava comigo mesma se era necessário, pois pelo menos para mim, o lugar de ensaio deles era ótimo. Isolamento acústico, bons instrumentos, boa sonorização. Tudo de bom! Então começamos a conversar sobre Canto, e ele me disse que teve aulas. “Sério!? Com quem?” – Perguntei. “Com a I*****S*****.” Não podia ser! “Opa, ela é minha professora!” Disse a ele que estudava no Conservatório da cidade já há cinco anos. Naquele momento percebi que a minha sorte iria mudar, quando S***** arregalou os olhos, e sorrindo me disse que o sonho dele era estudar no Conservatório, pois na verdade ele havia tido apenas algumas aulas particulares com a I******S*****. Enquanto o resto da banda trabalhava na tal música, S***** pegou no canto uns CDs. Me disse que sempre gravava a voz dele, sem nenhum acompanhamento, para se ouvir. Então, me deu um CD e pediu para que eu ouvisse com atenção o que havia lá. Estávamos ainda conversando quando o J***** disse pelo microfone que precisava da ajuda do S***** lá, que tinha um trecho da música que eles queriam colocar alguma coisa mais acústica, no violão. A J**** deu um berro de lá do fundo da sala: “A C***** TOCA VIOLÃO!!” O S***** virou o rosto em minha direção e me olhou franzindo suas sobrancelhas semelhantes à taturanas ruivas dizendo: “o que tem mais sobre você que não me conta, ein!? Você canta, toca violão...” Corei de vergonha. Não era para a J**** me jogar assim no fogo! “Ah, mas eu toco mal, faz pouco tempo que comecei a estudar, só dois anos. Só estou estudando pra me divertir, não é nem como canto, que levo mais a sério!” A essa altura do campeonato, a J**** e o J***** já estavam levantando coro: “TOCA! TOCA!”. S***** me pegou pela mão e me deu um violão que estava na estante. Disse que era dele, e que ele queria me ouvir tocando. Toquei uma peça que estava estudando no Conservatório – Guardame las vacas -de Alonso Mudarra- enquanto todos ficaram me ouvindo calados. Estava nervosa! Cheguei a errar em alguns trechos. Não havia me preparado para tocar, e sou tímida (um dos motivos para sempre me dar mal na vida é esse...¬¬)! Ninguém disse uma palavra. Quando terminei a reprise do episódio “A”, pessoal começou a aplaudir! O S***** ficou me elogiando, dizendo que eu era talentosa, e brincou mais uma vez sobre eu ser uma menina de muitos mistérios. Nossa, fui às alturas com aquilo! Procurei com o olhar a J****, que estava só rindo e balançando a cabeça em sinal de afirmativo. Então, S***** perguntou se eu não queria ajudar eles na composição da música que estavam trabalhando. Aceitei. Peguei o violão e sentamos todos da banda para ver o que podia ser feito...

Assim foi a minha primeira experiência em bandas de rock. Eu era apenas uma moleca que gostava de games, música clássica e heavy metal melódico. Cheguei a fazer algumas apresentações com a E****** S*******. Cheguei a compor algo com eles, e fazer backing vocals em shows (meus pais pirariam com isso). E claro: peguei o S*****.

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