sexta-feira, 9 de outubro de 2009

The Time Line III: a Festinha, as Botinhas e o Tapinha....

Olá, meus escassos e desocupados leitores! Como sabem, a Tia Love.is.a.tragedY que vos escreve é uma menina escravizada pelas agruras da vida. Desempenhar o trabalho de uma proto-roteirista “faz quase tudo” significa ser sugada desde o sangue até a alma! Apesar dos pesares “disso” (rs!) não duvidem que a minha cabeça esquizofrênica está sempre cheia de mil e uma idéias (além das “vozes” que me acusam de não ser uma true gamer  rs!) para melhorar esse espaço empoeirado que é o “Diário de uma Gamer”.

Ontem o trabalho foi (como sempre), muiiitoo corrido. Às 18:30 eu já estava muito cansada! Ainda bem que eu e minha assistente/colaboradora conseguimos terminar nossas atividades, e o mais importante: foram todas aprovadas com louvor! “Criar” é um processo exigente, que drena nossas forças! De noite, relax total. Cansada, não tive ânimo para ajudar Leon encontrar a eterna seqüestrada Ashley (pelo menos creio estar perto do fim do game... saí de umas catacumbas e voltei ao castelo do “Los Iluminados”). Depois de um bom banho, me preparei para dormir. Liguei o ar-condicionado, deixei a televisão no Record News, deitei na cama e enquanto comia lentamente uma barra de chocolate Talento ouvia o álbum The Memory of Trees da Enya no I-Pod. Fechei os olhos (sim, quando estou em casa sozinha gosto de deixar a televisão ligada mesmo que eu não a assista). Pensei em coisas bobas, piadas bobas que eu sempre me relembro para rir sozinha. Lembrei de uma piada do Wall no Boteco (dia desses eu até contava para uma amiga, e ela não entendia nada...e perguntou: “do que você ta rindo, sua louca?” E eu: “você não entenderia, esquece”.) e de um vídeo do “The Cramps” que o Airton me mandou o link do Youtube via Orkut.

Aquilo começou a martelar minha mente. A música macia da Enya, a infâmia do falecido Lux Interior e de sua consorte Poison Yvi... tudo tããããão, tããããõooo... “deslocado,” que uma pergunta me veio à mente: eu sou uma outsider? Uma pessoa anormal? Uma “góticaaaaa”??? Bom, eu tenho que confessar que sempre tive predileção por coisas nada comuns. Agora, como tudo isso começou? Até ontem não havia resposta! Digo ontem, pois a tia Love.is.a.tragedY que vos fala, após a ter pensado isso, viu de repente uma luz. A música que ela ouvia começou a se extinguir nos fones de ouvido, e apenas escutava umas vozes que sussurravam palavras que ela não conseguia entender! Num primeiro momento, se assustou com a situação, tentando abrir os olhos, mas logo a música relaxante voltou a ser perceptível, acalmando-a. Apesar das vozes ainda se confundirem com a música da Enya e tudo isso parecer aterrador, ela estava achando tudo o máximo! Enxergou então de olhos fechados um túnel. O corpo antes pesado agora parecia leve! “Espera, o meu corpo estava na cama, eu podia vê-lo!” – Pensou. Nesse momento entendeu: era uma viagem astral, o túnel era o da Time Line mais uma vez chamando-a de volta ao passado para a busca das respostas... para contar a vocês mais fatos malucos de sua vida INSANAAAAAAAnsaaanaaaaaaaaaaaaa!
 
Acompanhem-me, meus parcos leitores. Venham comigo que no caminho eu conto...

1995 (Lembram que eu já andei dizendo por aqui que foi um ano de mudanças?). Eu e R****** finalmente havíamos nos tornado amigos. O menino mais tímido e indecifrável da sala era agora meu confidente. Já havíamos chegado ao ponto de um visitar a casa do outro, de conhecer a família e tal. R****** era singular. Depois que me tornei amiga dele, descobri o quão ele era talentoso e de espírito sensível. Escrevia poesias, pensamentos. Desenhava soberbamente bem. Era músico nato. Tocava violão, saxofone, piano. Sua família era carioca, ele também. Sua mãe era funcionária do alto escalão da Secretaria de Cultura do RJ e estava a serviço do governo carioca na cidade, além de ser pintora nas horas vagas. Seu pai era engenheiro e estava às voltas com obras públicas. Formavam os três uma família culta. Uma vez, numa segunda-feira, fui almoçar na casa dele. Foi a primeira vez que ele me convidou. A M**** L**** ficou toda invejosinha por isso, mas não pude fazer nada! Eu não poderia convidá-la, pois eu não daria uma de mal-educada, chamando alguém para almoçar numa casa que não fosse a minha!

Saímos da escola, e o motorista do R***** já estava à nossa espera. R****** morava num imóvel luxuoso, nos J******. A casa era enorme! Seus pais não estavam lá. Na verdade, R****** passava muito tempo só. Os pais dele viajavam muito. Depois de comermos, ele me fez conhecer a casa toda. Após ter me mostrado o exterior da casa, fomos a um lugar que ele me falou que gostaria muito que eu conhecesse. Era uma sala, que ficava ao longo do corredor que dava acesso aos quartos. Entramos, e ele me disse: -“aqui é a nossa biblioteca, meu pai fica às vezes o dia todo aqui, quando está de folga.” – Era uma sala ampla, cercada de estantes que iam do chão ao teto. Todas cheias de livros. Um luxo! Fiquei um tempo parada, olhando as estantes, os livros. Num chute, diria que haviam de 500 a 700 livros ali. Então R******* começou a me mostrar alguns deles. Folheamos vários, até chegar a um escrito por um certo autor francês: Donatien Alphonse François de Sade ou, Marquês de Sade. O livro: Les 120 Journées de Sodome ou l'école du libertinage (para os que não sabem francês: Os 120 dias de Sodoma ou a escola da libertinagem) Algumas gravuras. Coisas indescritíveis. Curiosa como sempre fui, perguntei se ele poderia me emprestar o livro. R****** respondeu afirmativamente, mas fazendo uma ressalva: “você quer mesmo esse livro? Eu não li ele todo, porque é horrível. Mas pode levar, só não diga depois que não avisei...”

“Les 120 Journées de Sodome...” é a obra prima de Sade. Na verdade, ele não conseguiu terminá-lo, pois sempre estava às voltas com mudanças repentinas de manicômios e prisões. Foram 37 anos se dedicando ao romance. Até que em 1785, durante os anos conturbados do Reinado do Terror, o Marquês foi retirado às pressas da prisão onde estava confinado (a famosa Bastille) e não pôde levar o manuscrito consigo. Relataria em uma de suas cartas à sua esposa (a quem traiu fugindo com a própria cunhada) ter chorado “lágrimas de sangue” por crer que havia perdido para sempre o rolo que continha tal insano petardo. Maior autor libertino de seu tempo (e talvez de todas as eras) e ateísta ortodoxo, Sade relata em “Les 120 Journées”... a história mais bizarra que alguém poderia ter concebido em vida: quatro nobres se trancafiam num castelo isolado do mundo exterior para praticar toda sorte de atrocidade sexual com um elenco de subordinados entre rapazes, adolescentes e moças inocentes a partir das histórias contadas pelas quatro prostitutas de meia idade, tutoras responsáveis por cada um deles. E quando eu falo em “atrocidade”, tal palavra é elevada a proporções inimagináveis em se tratando de Sade! Não se choque se encontrar descrições de sexualidade perversa, cropofagia, canibalismo, humor terrivelmente negro, blasfêmias da pesada e incesto, só para citar algumas. O livro se divide em quatro ciclos de paixões: as simples (que são chamadas assim, pois não envolvem o ato sexual consumado, apesar de apresentarem as mais diversas bizarrices impublicáveis nesse blog que é “all ages”, rs!), as complexas (onde já encontramos blasfêmias, incesto, flagelação, entre outros!), as criminosas (e aqui Sade viaja longe, descrevendo toda sorte de crime sexual, sodomia com crianças de ambos os sexos, tortura, mutilação...todas envolvendo o ato sexual das mais formas  (im) possíveis...) e finalmente as assassinas (que descrevem as terríveis mortes do elenco de escravos sexuais que serviam a trupe ensandecida dos nobres protagonistas da romance). Aos quinze anos, eu li esse livro. E depois outro, e mais outro. Tenho alguns livros do Marquês. Eu fui até o fim. Cada página lida me instigava a seguir na história, é indescritível você ler Sade. Eu sobrevivi. Sou louca?
 

A little party...

R****** era também cinéfilo (não tanto quanto um certo amigo meu da net, que me inspirou a organizar esse capítulo da Time Line) e tinha em casa uma videoteca bem variada. No mesmo ano, ainda sob o encantamento por Sade, perguntei a R***** se existiam filmes baseados em livros do “Marquês Divino” Ele me disse que sim, mas que não tinha nenhuma cópia consigo. “Leve esse. Não é Sade, mas chega perto.” “Calígula” era o que estava escrito na fita...

"Caligola" é uma película tão bizarra quanto qualquer livro de Sade. Filmada em 1979 como produção ítalo-america por Tinto Brass, e co-financiada pela Penthouse, conta a história de queeemm? Calígulaaa (Rs!!!)! O imperador mais louco de pedra que comandou o vasto império romano. Está tudo lá: o romance que ele teve com sua própria irmã Drussila (a bonitinha mais ordinária Teresa Ann Savoy). O casamento com a prostituta Caesonia (Hellen Mirren). Sua ascensão como imperador popular e suas intrigas com o Senado romano. Seu processo de enlouquecimento...e claro: muuuuuuita perversão em cenas explícitas de sexo bacanálico! 
 

 Botinhas
 
Malcon McDowell produz um Calígula ensandecido, que titubeia entre a sanidade momentânea e os demônios do passado que o fizeram presenciar as aberrações sexuais de seu avô Tibério (Peter O’Toole) e realizar o seu assassinato. Não existe bondade em nenhum personagem do filme. São cerca de 156 minutos de descrições visuais vibrantes sobre o caráter humano e sua relação com o poder sem limites. Eu assisti (escondida), e sobrevivi. Sou louca?

O tempo passou, passou. E chegamos em 2007. O ano em que a Rockstar Games lançou o controverso Manhunt 2. Eu estava já feliz e contente nessa terra quente (rs!) que é o A******. Conseguindo sobreviver com as minhas próprias pernas, juntando meu dinheirinho e nas asas de uma nova paixão. E claro, jogando games sempre! MH2 às portas de seu lançamento teve problemas em alguns países devido a violência contida em seu enredo. E mesmo assim, a Rockstar teve de enfrentar um processo judicial para conseguir colocar o game nas lojas. Isso tudo só elevou o hype do game à proporções absurdas! Enquanto eu acompanhava as notícias sobre o game, a minha curiosidade mórbida/gótica só aumentava! Finalmente, lá pelo fim de 2007 consegui uma cópia sparrow para eu jogar. 
 

Ai, um tapinha não dói...
 
Você comanda o cientista Dr. Daniel Lamb, fugitivo de um Manicômio em que ficou confinado por seis anos. Sem saber o que aconteceu com ele por todo esse tempo, busca respostas durante todo o game. E durante sua jornada, ele encontra as mais diversas situações bizarras, seja por delírios que ainda sofre devido o confinamento, ou por visitar lugares pra lá de suspeitos como boates sadomasoquistas (!?). MH2 é um game com boas idéias, mas também com defeitos que acabaram tirando o brilho do enredo. Os controles são problemáticos e a inteligência artificial é ruim. Entretanto, o clima aterrador e a sensação claustrofóbica causada pelos competentes efeitos sonoros e a história instigante me fizeram degustar o game até certo ponto. Vale à pena, pois eu sobrevivi. Sou louca?

Então, desmiolados leitores que conseguiram chegar até aqui, depois de todos esses relatos tenebrosos, eu sei que estão lokinhos da silva para saber o veredicto final. Mas eu tenho uma notícia que vai desapontar a todos. Eu não vou dizer! E sabem por quê?

Porque para bom entendedor, pingo é letra.

4 comentários:

  1. Primeiro!


    :D


    Só para apoiar a idéia do texto: és louca!

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  2. Ah, Wall, não sou não, vai...

    São seu olhos!

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  3. Você não é louca. e nem uma outsider.
    você é uma das pouca spessoas sãs neste mundo.

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  4. Sádica...
    Adorei.


    Ei, aquele é o beijo invertido do Spiderman? :P

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